Pregador ou Contador de Histórias? – O Perigo de Desviar a Mensagem do Púlpito
Nos últimos anos, um fenômeno tem se tornado cada vez mais comum nos púlpitos: pregadores que, ao invés de expor as Escrituras com clareza, passam a maior parte do tempo contando histórias pessoais, relatando experiências emocionais, tentando arrancar risos da plateia ou até mesmo tecendo críticas a outros ministérios. É como se a oportunidade preciosa – e séria – de pregar a Palavra do Senhor tivesse se tornado uma vitrine para carisma, criatividade ou autopromoção.
Não é que testemunhos sejam maus, nem que uma breve ilustração não possa enriquecer uma mensagem. O problema surge quando o sermão é construído em torno do pregador, e não da Escritura. Quando a mensagem deixa de ser um “Assim diz o Senhor” para se tornar um “Deixem-me contar o que aconteceu comigo”. Quando o púlpito, que deveria ser um lugar de reverência, se torna um palco.
E isso é grave.
O púlpito não é um programa de auditório
Programas como o Crente Inteligente – que têm a proposta de informar, admoestar, despertar e até entreter – naturalmente utilizam histórias, críticas bem fundamentadas e linguagem mais leve quando o assunto pede. Essa é a proposta. É o formato. É o ambiente certo para essa abordagem.
Mas púlpito não é programa.
Púlpito é campo santo.
No púlpito, espera-se que a Escritura seja o centro, que o pregador seja apenas um instrumento e que Cristo seja o destaque. Ali, o povo de Deus não está reunido para ouvir o senso de humor do pregador, nem para conhecer seus feitos, traumas ou glórias; está reunido para ouvir a voz de Deus por meio da Palavra de Deus.
Quando o conteúdo pessoal substitui o bíblico
Quando o pregador passa mais tempo falando de si mesmo do que das Escrituras, três coisas acontecem:
1. A igreja deixa de ser alimentada
Experiências pessoais não substituem doutrina, exortação, ensino, correção e consolo bíblico. São como aperitivos servidos no lugar da refeição principal.
2. O foco se desloca
O púlpito começa a girar em torno da figura do pregador. E onde o homem é engrandecido, Cristo é ofuscado.
3. A oportunidade é desperdiçada
A chance de abrir a Bíblia, confrontar o pecado, consolar os aflitos e anunciar o evangelho é perdida. E isso é algo pelo qual todo pregador responderá diante de Deus.
Pregadores que estudam e oram nunca ficam sem mensagem
Há quem se apoie em histórias porque tem pouca familiaridade com as Escrituras. Mas nenhum pregador que ora, estuda e vive a Palavra fica sem conteúdo. A Bíblia é inesgotável. Sempre há advertência, consolo, promessa, doutrina, sabedoria e direção.
A falta de foco bíblico não é falta de assunto. É falta de preparo ou falta de prioridade.
O púlpito clama por seriedade
Vivemos dias em que o entretenimento domina, e muitas igrejas cedem à pressão de tornar tudo “leve”, “agradável”, “divertido”. É compreensível que programas de rádio e conteúdo digital naveguem por esses formatos – há espaço legítimo para isso, desde que feitos com responsabilidade cristã.
Mas uma coisa é entreter quando o formato permite.
Outra coisa é transformar o púlpito num espetáculo.
O púlpito exige gravidade, reverência, compromisso com a verdade e fidelidade ao texto bíblico. Ali, não há espaço para vaidade, disputas, brincadeiras forçadas ou apresentações pessoais.
O chamado é simples: voltemos à Palavra
A igreja não precisa de celebridades. Precisa de pregadores que abram a Bíblia.
Precisa de homens que digam o que muitos não querem ouvir, mas precisam ouvir.
Precisa de servos que entendam que o púlpito não é uma oportunidade para causar boa impressão, mas para anunciar o evangelho com convicção.
Histórias podem ilustrar, mas não podem conduzir. Testemunhos podem somar, mas não podem substituir. Humor pode aliviar, mas não pode guiar.
Cristo deve ser o centro. Sempre.
E todo pregador que ama a Deus e ama a igreja sabe disso.